No começo dos anos 2000, um grande estudo americano sobre a Terapia de Reposição Hormonal – o maior já feito – teve de ser interrompido quando os pesquisadores, ao analisar dados preliminares, começaram a se dar conta de que os riscos da terapia para saúde da mulher poderiam ser maiores do que os benefícios. Se por um lado o reforço de estrógeno e progesterona era importante fator de proteção contra infarto e osteoporose na fase pós-menopausa, por outro, aumentava a chance de derrames, demência e câncer de mama. Com esses resultados em mãos, os cientistas foram claros: a reposição hormonal deveria ser feita na menor dose possível e por um período de tempo curto.
A notícia repercutiu com força em todo o mundo – e a partir daí a busca por uma alternativa virou prioridade. A comunidade científica começou a se debruçar mais sobre uma opção já conhecida, mas pouco investigada: os fito-hormônios. “Trata-se de substâncias obtidas de plantas e que atuam de forma muito semelhante aos hormônios”, explica a ginecologistaCeci Lopes, presidente da Associação Médica Brasileira de Fitomedicina (Sobrafito). “Alguns imitam a ação de estrogênios, que são hormônios femininos, e podem ser obtidos mais frequentemente da soja ou da cimicífuga.”
Essa ação estrogênica foi detectada em plantas pela primeira vez na década de 20. Nos anos 1970 haviam sido classificadas centenas de espécies com ação hormonal. Hoje, elas já são milhares. Das várias substâncias que agem como fitoestrógenos, as mais estudadas e que mostram maior ação terapêutica são as isoflavonas, encontradas na soja e seus derivados. Mas existem também as ligninas (presentes na linhaça), os flavonoides (contidos em frutas e legumes) e os cumestranos (broto de feijão e alfafa).
“Alguns fito-hormônios, como os da cimicífuga, atuam em receptores diferentes dos hormônios sintéticos e não interferem na produção ou aceleração de processos cancerígenos”, diz a ginecologista Lúcia Hime, professora da Universidade Santo Amaro, em São Paulo. Mas, afinal, quem é essa tal de cimicífuga? A espécie – cujo nome científico éCimicifuga racemosa – contém fitoestrógenos que agem de forma a reduzir os níveis dohormônio luteinizante, o LH, responsável por sintomas como as irritantes ondas de calor. Os medicamentos derivados da planta foram aprovados pelo Ministério da Saúde da Alemanha como principais fitoterápicos para tratar os sintomas da menopausa.
Embora cheios de vantagens, os fito-hormônios podem não ser para todas. “Eles costumam ter menos efeitos adversos e podem ser utilizados pela maioria das mulheres que têm contraindicação para o uso de hormônios, mas nem sempre são tão eficazes quanto esses hormônios e, portanto, são mais satisfatórios para quem tem sintomas moderados”, observa a ginecologista Ceci Lopes, da Sobrafito.
Mas não são só as mulheres na menopausa que desfrutam dos benefícios dessas substâncias. Os fi to-hormônios também podem ser aliados contra a TPM que, até alguns anos atrás, era tratada apenas com medicamentos convencionais, como analgésicos e contraceptivos. Como nem sempre esses recursos correspondem às expectativas, e ainda acabam deixando para trás diversos efeitos colaterais, hoje os tratamentos naturais estão sendo incorporados ao arsenal de opções para domar essa dona encrenca. E, no caso da TPM, as plantas medicinais têm mais do que fito- hormônios a oferecer.
Um exemplo é o óleo de borragem (Borrago officinalis), que contém um ácido graxo importantíssimo: o ácido gamalinolênico, ou GLA. Ele não é fabricado pelo organismo, ou seja, precisa ser ingerido, e sua deficiência tem sido apontada por estudiosos como uma das causas de alguns dos sintomas físicos da TPM. Com seus poderes antiinflamatórios e antiinchaços, o GLA age diretamente na causa dos males, em vez de apenas atacar os sintomas. O óleo de borrage também pode ser indicado para dor nas mamas. Outro que pode dar uma força é o óleo de Prímula (Oenothera biennis), pois também contém o GLA.
Como se vê, as plantas medicinais são super amigas da saúde da mulher. Porém, nunca é demais lembrar: antes de consumir qualquer medicamento, converse com seu médico para informar-se sobre contraindicações e interação com outros remédios.
Onde estão os Fito-hormônios
Várias plantas medicinais contêm substâncias que imitam o estrógeno e a progesterona e, por isso, podem ser aliadas contra a TPM e alternativa à Terapia de Reposição Hormonal tradicional. Mas seu uso deve seguir orientação médica.
1 Alcaçuz ou Licorice (Glycyrrhiza glabra)
Seu efeito anti-inflamatório e cicatrizante explica o uso no tratamento de úlceras gástricas e eczema. Mas a cor amarela das raízes denuncia a presença de isoflavonas. Pode ser consumido como pó, infusão, extrato seco, xarope ou tintura. Em altas doses provoca retenção de líquidos, aumento de pressão sanguínea e dores de cabeça. É contraindicado para grávidas, hipertensos e portadores de doenças renais.
2 Cimicifuga (Cimicifuga racemosa)
Dois fitoestrógenos (isoflavona e deoxiacteína) agem conjuntamente para tratar sintomas doclimatério, como secura vaginal e calores, além de males associados à TPM, como depressão e dor de cabeça. Vem na forma de comprimidos. É contraindicada para pacientes com história de tumor endometrial, na gravidez, na amamentação e para alérgicos ao ácido acetilsalicílico (Aspirina).
3 Dong Quai (Angelica sinensis)
Contém vasodilatadores que ajudam no alívio da pressão arterial e, por tabela, da dor. Por isso, é indicado contra cólicas menstruais. Traz substâncias que atuam como o estrógeno e a progesterona, ajudando a amenizar os fogachos e a secura vaginal na menopausa. O extrato seco padronizado deve conter 1% de ligustilide, o princípio ativo mais importante. É contraindicado para quem sofre de úlceras no estômago, toma anticoagulantes e para grávidas.
4 Yam mexicano (Discorea villosa)
Contém substâncias que imitam a progesterona e o estrógeno. É indicado como coadjuvante para TPM, climatério e na prevenção da osteoporose. Está disponível na forma de extrato seco, creme ou gel padronizados. Deve ser utilizado com cuidado por pacientes submetidos à Terapia de Reposição Hormonal, que usam contraceptivos orais e com histórico de trombose e derrame.
5 Linhaça (Linum usitatissimun)
É rica em lignanas, substâncias que fazem as vezes do estrógeno. Um estudo feito naUniversidade de Toronto, no Canadá, mostrou relação entre as lignana e a redução de tumores de mama. Disponível na forma de cápsulas gelatinosas. Não há evidências de efeitos colaterais na literatura médica.
6 Trevo vermelho (Trifolium pratense)
A presença de quatro tipos de isoflavonas explica a indicação do trevo para aliviar os fogachos da menopausa e prevenir a osteoporose. O extrato padronizado contém 40 mg de isoflavonas. É contraindicado na gravidez e lactação e para quem toma medicamentos anticoagulantes.
7 Soja (Glycine max)
Graças às isoflavonas, substâncias semelhantes ao estrógeno, pode ser utilizada como alternativa à Terapia de Reposição Hormonal. Pode ser ingerida na forma de proteína, leite ou tofu, mas, para chegar à dose recomendada de 45 mg diárias, é mais prático consumir a farinha: duas colheres de sopa, duas vezes ao dia, misturadas no leite ou iogurte.
8 Vitex (Vitex agnus castus)
Tem estrutura semelhante à da vitamina E, que é indicada para aliviar inchaço e dor nos seios durante a TPM. Aumenta os níveis de progesterona, que por sua vez reduz a produção do hormônio folículo estimulante, responsável pelas ondas de calor. Coceira e urticária são os possíveis efeitos colaterais. É contraindicado na gravidez e para quem faz a Terapia de Reposição Hormonal tradicional.
RAIZ E FLORES
1 Prímula (Oenothera biennis)
As sementes contêm ácido gamalinolênico, conhecido por seu efeito antiinflamatório. A defi ciência desse nutriente é associada a sintomas da TPM, como inchaço e dor nos seios. É contraindicada na gravidez, na amamentação e para quem tem histórico de epilepsia.
2 Gengibre (Zingiber offi cinale)
O uso popular consagrou o gengibre como remédio para náuseas e vômitos – inclusive no caso dos enjoos das grávidas. Estudos feitos em mulheres grávidas sugerem que 1 grama de gengibre ao dia é eficaz contra o enjoo. O uso por até quatro dias não apresenta efeitos colaterais.
3 Camomila (Matricaria recutita)
Ajuda a aliviar sintomas de vulvovaginites (candidíase é um exemplo), como irritação e coceira. A recomendação médica é lavar a região irritada com chá de camomila várias vezes ao dia.
4 Borragem (Borrago officinalis)
Também é aliada contra a TPM, já que é outra planta riquíssima em ácido gamalinolênico. Disponível em cápsulas gelatinosas. Portadores de epilepsia ou esquizofrenia não devem fazer uso do medicamento.
Fontes: University of Maryland Medical Center; Centro de Informações sobre Medicamentos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Hospital de Medicina Alternativa de Goiás
Fonte: Revista Herbarium